quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O interior de John Lennon escrito em "In My Life"


Mesmo que John tivesse começado a escrever canções mais declaradamente autobiográficas, foi com "In My Life" que sentiu ter alcançado a ruptura que Kenneth Allsop o encorajava a fazer em 1965, quando sugeriu que se concentrasse em sua vida interior.

Gravada em outubro de 1965, foi fruto de uma longa gestação. Começou, de acordo com John, como um longo poema em que ele reflete sobre seus lugares preferidos de infância, fazendo uma jornada de sua casa na Menlove Avenue até o Docker's Umbrella, a estrada de ferro suspensa que corria pela zona portuária de Liverpool, sob qual os estivadores buscavam abrigo da chuva.


Contratado por Yoko Ono para realizar um inventário dos objetos pessoais de John depois de sua morte, Elliot Mintz lembra de ter visto o primeiro rascunho da música escrito à mão.
Em um rascunho dessa letra desconexa , John listava Penny Lane, Church Road, o relógio da torre, o Abbey Cinema, os galpões do bonde, o café holandês, St. Columbus Church, o Docker's Umbrella e Calderstones Park. Apesar dela preencher o requisito de ser autobiográfica, John percebeu que não era mais do que uma série de instantâneos agrupados livremente pela sensação de que pontos de referência um dia familiares estavam desaparecendo rapidamente. Os galpões onde estacionavam bondes, por exemplo, não tinham mais bondes, e o Docker's Umbrella tinha sido desativado.

"Era o tipo mais chato de música para cantar em ônibus sobre 'o que fiz nas férias', e não estava funcionando", afirmou. "Então me deitei e a letra e os lugares de que me lembro começou a brotar."
John descartou todos os nomes de lugares e criou uma sensação de luto por uma infância e juventude perdidas, transformando o que de outra forma seria uma canção sobre a mudança na paisagem de Liverpool em uma canção universal sobre o confronto com a morte e a decadência. Era a história de um sujeito durão, conhecido por rir dos incapacitados, mas que também era um sentimental. No decorrer da vida, ele sempre teve uma caixa onde guardava recordações de família.

Mais tarde, John disse a Peter Shotton que, quando escreveu o verso de "In My Life" sobre os amigos mortos e vivos, estava pensando especificamente em Shotton e no antigo beatle Stuart Sutcliffe, que morreu em decorrência de um tumor no cérebro em 1962.

A letra guarda uma semelhança surpreendente com o poema de Charles Lamb do século XVIII "The Old Familiar Faces", com o qual pode ter deparado na antologia de poesia popular Palgrave's Treasury

O poema começa com:
I have had playmates, I have had
companions,
In my days of childhood, in my
[joyful schoodays:
All, all are gone, the old familiar faces. 
Tive parceiros de brincadeiras,
[tive companhias,
Nos seus dias de infância, nos
[meus alegres tempos de escola:
Todos, todos se foram, os antigos
[rostos familiares.








Seis versos depois, é concluído com:

How some they have died,
and some they have left me,
And some are taken from me;
[all are departed;
All, all are gone, the old familiar faces.
Como alguns morreram,
E alguns me deixaram,
E alguns foram tirados de mim;
[todos partiram;
Todos, todos se foram, os antigos
[rostos familiares.








A origem da melodia de "In My Life" continua em discurssão. John afirma que Paul ajudou em alguns trechos. Paul ainda acredita ter escrito tudo. "Eu lembro que ele tinha a letra em forma de poema, e eu criei algo. A melodia, se eu me lembro direito, foi inspirada em The Miracles", ele conta. Paul quase certamente se referia a "You Really Got Hold On Me".

Na gravação, o solo instrumental foi executado por George Martin, que gravou o piano pessoalmente e depois tocou em velocidade acelerada para criar o efeito barroco. A opinião de John sobre o resultado era de que se tratava de "sua primeira obra realmente importante".

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